Fobia social: quando o medo de se expor paralisa
Psicóloga Vanesa Bagio fala sobre o transtorno que afeta a vida social e profissional de milhares de pessoas

No quadro “Mente em Sintonia” do Jornal da Guarujá, a psicóloga Vanesa Bagio trouxe à tona um tema cada vez mais presente nas clínicas: a fobia social. Em suas palavras, trata-se de um transtorno de ansiedade social, que leva a pessoa a evitar interações públicas por medo de julgamentos, críticas ou constrangimentos — muitas vezes imaginados, mas sentidos com intensidade real.
“Fobia social não é só timidez. É um transtorno mesmo. A pessoa sente uma preocupação excessiva, um medo de se expor, e isso não necessariamente tem a ver com ser tímido. Às vezes, vem da comparação, da cobrança, da ideia de que vão rir dela, que vão julgar.”
Vanesa destaca que o tema é atual e urgente, principalmente por conta do impacto das tecnologias na forma como nos relacionamos. “Hoje a gente consegue tudo dentro de casa — comida, roupa, até atendimento médico. E isso vai tirando a necessidade do contato presencial, do olho no olho. As pessoas estão se acostumando a evitar o outro.”
Não é só timidez
Durante a conversa, a psicóloga chamou atenção para um ponto recorrente em consultório: a confusão entre timidez e fobia social. “Tem muita gente que diz que é tímida, mas quando a gente começa a conversar, vê que se comunica super bem. A fobia social não é só timidez. Ela aparece quando a pessoa se sente desconfortável em ambientes sociais, mesmo quando não há razão objetiva para isso. É o medo de estar exposta, mesmo sem motivo.”
Ela reforça que a comparação constante com os outros é um fator agravante. “Às vezes a pessoa olha pro lado e já acha que o outro está rindo dela, julgando, mesmo que não esteja. É uma interpretação que vem da própria mente, um pensamento intrusivo que trava.”
A influência da pandemia e das redes sociais
Vanesa aponta que a pandemia intensificou muitos quadros já existentes, ainda que adormecidos. “A pandemia foi um gatilho. As pessoas se acostumaram a viver dentro de casa, a se isolar, e muita gente não conseguiu mais voltar à rotina social. O medo ficou. O toque ficou. O receio de sair, de adoecer, ou mesmo de ser visto diferente. Muita coisa estava ali, só não tinha nome.”
As redes sociais também entraram na pauta. Para Vanesa, embora tragam conexões, também alimentam um tipo de conforto perigoso para quem tem fobia social. “Você pode viver sem sair de casa hoje. Isso reforça o comportamento de evitar o outro. E pior: ali todo mundo é ‘perfeito’, então o nível de comparação sobe. E a pessoa começa a se sentir inferior, inadequada.”
Entre os principais sintomas relatados, estão o medo extremo de errar em público, o receio constante de estar sendo observado ou criticado, e o desejo de evitar qualquer exposição. O corpo também reage: suores, mãos trêmulas, batimentos acelerados, branco na mente. “Às vezes a pessoa até se prepara, domina o conteúdo, mas na hora de falar em público, trava. Começa a achar que vão rir, que ela vai esquecer tudo. E esse pensamento, mesmo que não seja racional, é o que comanda. A ansiedade domina.”
Vanesa contou uma experiência pessoal que ilustra bem isso. “As pessoas me veem como supercomunicativa. Mas quando eu fui chamada para palestrar para um público grande, a sensação foi diferente. Porque ali eu não conhecia ninguém, eu não tinha o controle. E isso deu medo. É como se o cérebro ativasse um alerta de perigo, mesmo que não haja perigo real.”
Nem todo isolamento é fobia
A psicóloga também explicou que nem toda vontade de ficar em casa ou evitar sair significa que a pessoa sofre de fobia social. “Se você trabalha a semana inteira, está exausto, e quer descansar no fim de semana, está tudo certo. Agora, se isso vira um padrão, se você começa a evitar sair sempre, inclusive em situações prazerosas, aí é um sinal de alerta.”
E brincou com o comportamento de “ranzinzas modernos”. “Tem gente que fala: ‘Ah, mas eu só quero ficar em casa, estou cansado’. Tudo bem. Desde que isso não vire isolamento total, desde que você ainda mantenha vínculos, se relacione. Se não, começa a prejudicar até a vida da família.”
Quando procurar ajuda?
A orientação de Vanesa é clara: se o medo de se expor começa a interferir na rotina, no trabalho, na vida afetiva ou causa sofrimento, é hora de buscar ajuda profissional. “Começou a mudar comportamento, humor, irritação constante, a evitar tudo que envolva contato com pessoas, é hora de procurar um psicólogo. E em alguns casos, quando há sintomas mais intensos, a gente também encaminha para avaliação psiquiátrica.”
O tratamento, segundo ela, é principalmente psicoterapêutico. “Na maioria dos casos, a terapia resolve. Só quando a ansiedade chega a um ponto muito alto, ou há crises de pânico, é que pensamos em medicação, sempre com acompanhamento médico.”
E finaliza com um lembrete: “Relacionamento é essencial para a saúde mental. A gente precisa conversar, se conectar, trocar. Um abraço, um bom dia, um olhar atento já fazem diferença. Não se isole. Procure ajuda se precisar.”
Para mais informações sobre o trabalho de Vanesa Bagio e dicas sobre saúde mental, visite seu perfil no Instagram @vanesabagio.psi ou agende uma consulta em seu consultório localizado no Edifício Cidade das Colinas, Rua João Ramiro Machado, 321 – Sala 6, Centro de Orleans.
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