“Pegou todo mundo de surpresa”: presidente do sindicato reage a cortes da Dexco em Criciúma e Urussanga

Responsável pelas marcas Portinari e Ceusa, a Dexco comunicou na quarta-feira (4) o desligamento de trabalhadores nas unidades de Criciúma e Urussanga, no Sul catarinense. Segundo a empresa, as demissões são motivadas pela baixa demanda do mercado e pela busca por melhorias nos indicadores de produtividade e eficiência.
A decisão foi apresentada em uma reunião com o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Cerâmicas de Criciúma e Região. Conforme a empresa, serão cerca de 90 demissões em Criciúma, com possibilidade de chegar a 100, e 30 desligamentos em Urussanga, número que pode se estender a 50. No entanto, o sindicato acredita que o total pode atingir 150 trabalhadores.
Em entrevista ao Jornal da Guarujá nesta sexta-feira (6), o presidente do sindicato, Itaci de Sá, criticou a postura da empresa e revelou que a notícia pegou os trabalhadores e os representantes sindicais completamente de surpresa. “É surpreendente também, né? Porque nós não esperávamos esse tipo de atitude da empresa em demitir os funcionários nesse momento. A gente estava em negociação de dissídio coletivo com eles. Inclusive marcaram reunião com a gente para terça-feira, mas quando vieram, não apresentaram nenhuma proposta. Foi só a comunicação das demissões.”
Itaci afirmou que a expectativa do sindicato era de negociação e não de cortes. “A informação inicial era que viriam duas pessoas de São Paulo e de Criciúma para negociar. No fim, vieram quatro, dizendo que iriam fazer as demissões. E começaram no dia 5 mesmo. Só ontem foram mais de 80 desligamentos em Criciúma.”
Sobre Urussanga, ele acrescentou: “Durante a noite ainda estavam sendo feitas as demissões na Ceusa. Não temos o número exato, mas não deve ser menos de 30. Sempre é mais, né?”
O presidente do sindicato criticou a falta de diálogo prévio da empresa e disse que não vê justificativa sólida para os cortes. “A gente admite que as vendas não estão tão boas como eles gostariam ou como a gente também gostaria, mas nenhuma outra cerâmica da região está demitindo.”
Segundo ele, outras empresas da região estão, inclusive, contratando. “A gente tem reunião marcada com várias empresas que estão pedindo mão de obra. Dia 11 teremos uma na Portinari, e no dia 12 em Cocal, no salão paroquial. Tem empresa do setor cerâmico, do plástico, metalúrgico… Todas estão precisando de gente.”
Apesar do impacto, o presidente do sindicato acredita que trabalhadores demitidos não devem ter dificuldades para recolocação. “Estamos em contato com outras cerâmicas, empresas do setor plástico e metalúrgico. Há uma grande demanda por mão de obra qualificada. Esperamos que todos consigam se recolocar rapidamente”, disse. “A mão de obra aqui é muito boa, muito assídua, muito preparada”, completou.
O sindicato também demonstrou preocupação com o futuro das unidades da Dexco na região. “Nosso pensamento é que estão concentrando tudo na nova fábrica em Botucatu, em São Paulo. Ela é muito moderna. A gente acha que vão fechar mais unidades por aqui e transformar a Portinari num centro de distribuição. A empresa nega, diz que não vai fechar mais nada e até insinuou que a Eldorado pode voltar a funcionar. Mas pra mim isso é ilusão. Venderam as máquinas, desativaram tudo.”
Segundo o presidente, o sindicato também solicitou à Dexco prioridade na manutenção de trabalhadores com filhos pequenos ou em idade avançada, com maior dificuldade de reinserção no mercado. Além disso, pediu participação nas homologações para garantir o pagamento de todos os direitos.
“A empresa se comprometeu a pagar tudo corretamente e, a princípio, aceitou nossa participação. Vamos orientar cada trabalhador sobre seus direitos.”
Por fim, Itaci reforçou que o problema é específico da Dexco. “Não é uma crise no setor. É algo pontual, só da Dexco. As outras empresas seguem funcionando normalmente, contratando, produzindo. O setor está saudável. O que nos entristece é que a empresa agiu sem diálogo, sem negociação. E quem sofre é o trabalhador.”