Setembro Amarelo: a psiquiatria na prevenção do suicídio e o cuidado com jovens e adultos
Projeto “Três Cores, Uma Causa”, da Rádio Guarujá, destaca a importância de quebrar tabus, promover saúde mental e identificar sinais de risco, com dados alarmantes sobre homens, mulheres e adolescentes.

A Rádio Guarujá realiza o projeto “Três Cores, Uma Causa”, focado na conscientização e prevenção em saúde pública, com campanhas específicas em diferentes meses: setembro para prevenção ao suicídio, outubro voltado à prevenção dos cânceres de mama e colo de útero, e novembro à prevenção do câncer de próstata.
Neste Setembro Amarelo, a atenção se volta à prevenção do suicídio, tema complexo e de grande relevância social. Para entender como a psiquiatria atua na prevenção, o Jornal da Guarujá conversou com a Doutora Júlia Pizzolatti Pieri Tezza, médica psiquiatra com experiência em atendimento clínico e hospitalar.
Ao abordar o tema, a especialista destaca que a conversa aberta sobre suicídio é essencial para quebrar preconceitos.
“Precisamos cada vez mais falar sobre o suicídio. Muitas pessoas sentem vergonha ou acreditam que não há outra saída, e a informação aberta sobre prevenção ajuda a identificar pacientes em risco e reduzir essas mortes evitáveis.”
O tema ainda enfrenta barreiras culturais. No Brasil, muitos associam erroneamente a psiquiatria a “loucuras” e evitam buscar ajuda. Doutora Júlia reforça que essa resistência contribui para números alarmantes e alerta para a importância de desmistificar a especialidade.
“No consultório, vejo que pacientes ainda demoram a procurar ajuda por vergonha ou preconceito. Falar sobre saúde mental e suicídio permite identificar quem precisa de suporte e iniciar tratamentos eficazes.”
Promoção da saúde mental: além do tratamento médico
Para a psiquiatra, a prevenção envolve mais do que medicação. Ela explica que hábitos de vida saudáveis e suporte familiar são fundamentais para reduzir o risco de suicídio.
“Oferecer ajuda especializada é essencial. Quanto antes a intervenção, maiores as chances de prevenção.”
Dados que chamam a atenção
Os números de suicídio no Brasil são preocupantes. Em 2024, foram registrados 16 mil casos, e a maior parte das vítimas são homens, devido ao uso de métodos mais letais. Entretanto, as mulheres apresentam maior número de tentativas, embora seus métodos geralmente sejam menos agressivos. Essa diferença reforça a importância de entender padrões de comportamento e risco por gênero.
“78% das vítimas são homens. As mulheres tentam mais, mas os homens usam formas mais letais, o que explica a diferença nos números de óbitos.”
Além disso, fatores sociais, econômicos e vulnerabilidades específicas, como pertencimento a minorias ou histórico de traumas, aumentam o risco. As redes sociais também têm impacto ambivalente, oferecendo informação, mas ao mesmo tempo podendo agravar sintomas depressivos e ideação suicida.
O impacto nos jovens
O aumento de casos de autolesão e ideação suicida entre adolescentes e jovens preocupa . Ela explica que fatores da infância, como a forma como se aprende a lidar com emoções, interagem com experiências de bullying, traumas e abusos, influenciando diretamente o risco de autolesão e ideação suicida.
“A infância e adolescência são períodos cruciais para aprender a lidar com emoções e resolver problemas. Bullying, traumas e abusos podem prejudicar essa capacidade, aumentando risco de autolesão e suicídio.”
Além disso, a rotina exaustiva, a pressão por desempenho escolar e o isolamento digital tornam os jovens ainda mais suscetíveis. Muitos passam grande parte do tempo conectados a telas, absorvendo informações negativas ou inadequadas, sem orientação ou diálogo familiar, o que pode agravar pensamentos depressivos.
“Hoje, muitos adolescentes vivem isolados em seus quartos, conectados a telas, sem diálogo com a família. Pequenos sinais de sofrimento passam despercebidos, e sem orientação adequada, os jovens podem desenvolver problemas graves.”
Mudanças comportamentais, como isolamento ou retraimento, podem indicar sofrimento profundo. A médica também aponta que o papel da família é central. Observar mudanças de comportamento, oferecer escuta empática e criar ambientes seguros para expressão de sentimentos são estratégias que podem prevenir quadros mais graves.
“Pais e familiares precisam estar atentos. Observar mudanças de comportamento, ouvir sem julgamentos e oferecer suporte são atitudes que podem prevenir situações extremas. Pequenas intervenções no dia a dia fazem grande diferença.”
A prevenção na infância e adolescência não substitui o acompanhamento médico, mas é fundamental para reduzir riscos futuros. Educação emocional, diálogo e espaços seguros de expressão são ferramentas essenciais para jovens e adolescentes.
“Falar sobre saúde mental nas escolas, ensinar crianças e jovens a lidar com emoções e resolver problemas, além de criar espaços seguros para expressão, são estratégias fundamentais para reduzir riscos futuros.”
Para aqueles que se identificam com os sinais de sofrimento ou conhecem alguém em risco, a Doutora Júlia atende em diferentes localidades, oferecendo acompanhamento psiquiátrico e apoio integral. Ela realiza atendimentos pelo SUS em Orleans e Lauro Müller, além de consultas particulares em Orleans e São Ludgero.

Foto/Reprodução
Confira entrevista completa