Brasil lidera casos de dengue em 2023, com 2,9 milhões de registros
Aumento alarmante de casos impulsiona o país a adotar medidas rigorosas e incorporar vacina ao SUS

O Brasil enfrenta uma preocupante liderança mundial no número de casos de dengue, com 2,9 milhões de registros ao longo do ano de 2023, revela a Organização Mundial da Saúde (OMS). Este valor representa mais da metade dos 5 milhões de casos globalmente reportados. Em um comunicado emitido nessa sexta-feira (22), a OMS ressaltou a disseminação da doença para nações historicamente não afetadas.
O aumento significativo dos casos é atribuído, em grande parte, à crise climática que elevou as temperaturas globais, proporcionando condições propícias para a sobrevivência do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, em ambientes antes considerados inóspitos. O fenômeno El Niño de 2023 acentuou ainda mais os impactos do aquecimento global e das alterações climáticas.
A OMS reportou mais de 5 milhões de infecções por dengue em todo o mundo, com 5 mil mortes relacionadas à doença. A maioria desses casos, 80%, totalizando 4,1 milhões, foi notificada nas Américas, seguida pelo Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental. No continente americano, o Brasil concentra o maior número de casos, seguido por Peru e México. Esses dados abrangem o período de 1º de janeiro a 11 de dezembro.
No Brasil, dos casos identificados, 0,05% são classificados como dengue grave, também conhecida como dengue hemorrágica, totalizando 1.474 registros. O país ocupa o segundo lugar na região, atrás apenas da Colômbia, que contabilizou 1.504 casos graves.
Países como França, Itália e Espanha, antes isentos da dengue, reportaram casos de transmissão autóctone originados no Brasil. O mosquito Aedes aegypti, conhecido na Europa como mosquito tigre, tem se disseminado na região.
Um levantamento realizado pela plataforma AdaptaBrasil, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destaca que as mudanças climáticas no Brasil podem propiciar a proliferação de vetores, agravando arboviroses como dengue, zika e chikungunya. O trabalho considerou temperaturas, umidade relativa do ar e precipitação acumulada para associar a ocorrência do vetor.
A dengue, transmitida por mosquitos infectados, é a infecção viral mais comum em áreas urbanas de climas tropicais e subtropicais. Seus principais sintomas incluem febre alta, dores no corpo e articulações, mal-estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas na pele.
O Ministério da Saúde recomenda medidas preventivas, como eliminar criadouros, manter reservatórios cobertos e adotar proteção contra picadas, especialmente durante o dia, quando o Aedes aegypti é mais ativo.
Na quinta-feira (21), o Ministério da Saúde incorporou a vacina contra dengue, denominada Qdenga, ao Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil torna-se o primeiro país a disponibilizar a vacina de forma universal. A distribuição inicial será focada em públicos e regiões prioritárias, conforme definido pela Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no SUS (Conitec).
Em entrevista à Radioagência Nacional, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, destaca a importância da vacina como um instrumento crucial para controlar a propagação da dengue.
O Ministério da Saúde, em nota, afirmou estar alerta e monitorar constantemente a situação da dengue no Brasil. Um investimento de R$ 256 milhões foi repassado para auxiliar estados e municípios no combate à doença. A instalação de uma Sala Nacional de Arboviroses permitirá o monitoramento em tempo real das áreas com maior incidência de dengue, chikungunya e Zika, possibilitando uma resposta mais eficaz a um possível aumento de casos nos próximos meses.
O Ministério destaca a importância da prevenção, instando a população a procurar atendimento médico ao apresentar os primeiros sintomas e reforça que aproximadamente 11,7 mil profissionais de saúde foram capacitados em 2023 para lidar com a clínica, vigilância e controle da dengue.