Secretário Valdir Colatto detalha medidas do Programa Leite Bom para apoiar produtores de leite no estado
Nesta sexta-feira, 14, o Jornal da Guarujá conversou com o Secretário de Estado da Agricultura, Valdir Colatto, sobre o Programa Leite Bom, uma iniciativa do governo de Santa Catarina destinada a apoiar os produtores de leite locais frente à concorrência da importação de leite em pó. O programa é uma resposta direta à crise gerada pela entrada massiva de leite importado, especialmente da Argentina e do Uruguai, que impactou negativamente a produção nacional devido a subsídios de juros e isenções de ICMS que esses produtos estrangeiros recebem.
A importação de leite em pó, liberada sem restrições pelo atual governo federal, tem causado sérios problemas para os produtores de leite brasileiros. Os produtos importados chegam ao mercado a preços mais baixos, prejudicando a competitividade dos produtores locais. O Secretário explicou que o leite em pó importado é muitas vezes utilizado para fabricar outros produtos lácteos, competindo de forma desleal com o leite produzido no Brasil.
“Santa Catarina produz cerca de 3,2 bilhões de litros de leite por ano, isso quer dizer que são em torno de 7 bilhões na economia de Santa Catarina, que irriga todos os estados, principalmente os pequenos municípios, os pequenos agricultores”, afirmou Colatto. “O custo de produção aqui no Brasil ficou maior do que o preço que os agricultores recebem.”
Para enfrentar essa situação, o governo estadual implementou o Programa Leite Bom, que envolve um investimento de cerca de 300 milhões de reais, divididos igualmente entre subsídios para a indústria e financiamentos para os produtores. Entre as iniciativas do programa estão o Pronampe Leite SC e Financia SC Leite.
Pronampe Leite SC permite que produtores obtenham financiamentos a juros subsidiados. “O produtor vai ao banco, busca lá os recursos através de financiamentos projetados pelo I-Park, faz um projeto em torno de dois subjuntos que o governo paga,” explico.
Financia SC Leite oferece empréstimos de até R$ 40 mil, onde o produtor paga apenas 70% do valor sem juros. “O produtor busca R$ 10 mil, volta a pagar R$ 7 mil só. Então, 30% ele não devolve e sem juros,” detalhou o secretário. “O programa é uma tentativa de manter os produtores, que são vitais para nossa economia,” acrescentou.
Apesar das iniciativas estaduais, Colatto ressalta que o montante investido é pequeno diante da dimensão do problema. “Os nossos 300 milhões é um grão de areia no oceano, só o valor da venda da produção anual desse leite, são mais de 7 bilhões,” disse ele. A produção de leite em Santa Catarina e no Brasil enfrenta desafios como a falta de sucessores nas propriedades rurais e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada disposta a lidar com a exigente rotina da produção leiteira.
“Apenas 5% das propriedades têm sucessores preparados para continuar a atividade. Além disso, os agricultores enfrentam uma rotina árdua, com longas jornadas de trabalho e pouca folga, o que dificulta a contratação de novos trabalhadores. Tem que levantar às 4 da manhã, trabalhar de domingo a domingo, não tem festa, não tem feriado e você não encontra um trabalhador que se enquadre nesse processo.”
Ainda durante a entrevista, o secretário fez um apelo para que o governo federal adote medidas de proteção à produção nacional, ressaltando a importância de manter a segurança alimentar e a viabilidade econômica dos pequenos agricultores. “Se nós não mantermos a nossa segurança alimentar e nossa produção aqui, nós vamos ter problema ali na frente, o governo tem que olhar essas questões e nós temos que proteger esse agricultor,” alertou.
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