O cavalo tarado. Por Ana Dalsasso
É impossível ser um educador e não se indignar com o ocorrido em escolas públicas do Rio de Janeiro há poucos dias com uma apresentação, dita “cultural”, para crianças das séries iniciais do ensino fundamental, usando um funk intitulado “Cavalo Tarado”, cuja letra reflete a realidade de um cavalo no cio. Uma verdadeira afronta à inocência de nossas crianças, um descrédito ao compromisso dos educadores para com as famílias e a sociedade, escancarando assim a falência da educação.
Sabemos que o “funk” é um ritmo forte de dança, eu particularmente não gosto, que surgiu nas periferias como um grito de denúncia ao mundo sobre as mazelas ali vividas, porém aos poucos foi se afastando do objetivo proposto, transformando-se as letras em verdadeiras baixarias, na maioria das vezes em apelo sexual deturpado. Uma verdadeira poluição sonora, uma afronta aos valores morais. Sexo é algo a ser tratado com respeito, dentro dos limites da moralidade, na hora e locais apropriados.
Num país onde a educação não é levada a sério, recursos básicos precários, investir 50 mil reais num grupo de dança para levar às escolas um teatro funk, com conteúdo pornográfico, é um deboche para com a sociedade. Que país é este que não zela pelo seu maior patrimônio? Que tipo de gestores e professores estão nas escolas que se submetem a isso? Aceitam, dançam e cantam juntos, e depois queixam-se que os alunos não têm respeito, cometem abusos, batem nos professores, transformam-se em projetos de marginais…
Isso aconteceu em escolas públicas de séries iniciais do ensino fundamental, onde as crianças devem ter os primeiros contatos com as responsabilidades do dia a dia, aprender a cumprir horários e regras, vivenciar valores morais e éticos, preceitos esses a serem incorporados para o seu crescimento pessoal, profissional e intelectual. Toda arte é uma forma mágica de passar ensinamentos, desde que atrelada aos objetivos da instituição. Daí nos questionarmos: que lições tirar de uma apresentação que retrata um cavalo no cio? Se o dinheiro investido fosse repassado à escola, quantas atividades artísticas poderiam ser feitas?
A escola tem de ser alegre, viva, um lugar prazeroso e eficaz onde crianças e jovens sintam-se seguros na caminhada, com professores comprometidos que ensinem, eduquem e influenciem oferecendo ensinamentos que deem sentidos à vida dos alunos. Os professores são soberanos na condução do processo ensino e aprendizagem e devem escolher o que melhor condiz com a realidade do seu educando, de forma atraente, motivadora, organizada, com métodos e limites.
Diante do exposto, cabe aqui um ensinamento do grande educador RUBEM ALVES: “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais” ( Rubem Alves).