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Independência Financeira e Relações Abusivas. Por Aline Amboni

Por Aline Amboni27/09/2022 17h25

Em uma quarta-feira à noite, enquanto escrevia para o canal, por coincidência estava assistindo ao Jornal Nacional, o qual está transmitindo uma série sobre a Constituição Brasileira. A série se chama “Brasil em Constituição”, são 23 episódios que tem como objetivo trazer aos brasileiros, principalmente aos mais jovens, a importância desse documento, os avanços obtidos com a Carta Constituição de 1988 e como ela está presente em nosso dia a dia,

Enquanto ouvia o jornal, acabei desviando minha atenção do texto pois o tema abordado fez muito sentido com o que eu estava escrevendo.  O episódio em questão trouxe como as mulheres fizeram história durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, e como elas conseguiram assegurar a plena igualdade de direitos com os homens.

Para entenderem melhor, vou trazer algumas falas do episódio que chamaram a minha atenção:

§   as brasileiras só conquistaram o direito de votar, que é um direito básico de cidadania, em 1932. Eram educadas, antes de tudo, para serem esposas.

§    “A mulher foi deixada quieta no seu canto, em um canto que foi definido para ela por outras pessoas, sem que ela pudesse falar sobre isso. Esta transformação de abrir todas as portas, de escancarar, representa uma revolução muito grande”, afirma a ministra do STF Cármen Lúcia.

§  “Havia uma história de não participação feminina, depois havia uma história de opressão. O homem era o chefe da sociedade conjugal. A mulher casada só podia trabalhar com autorização; só podia celebrar contrato com autorização. Isso vai até o início dos anos 60, quando vem o Estatuto da Mulher Casada”, relembra o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

§   A conquista da igualdade só veio em 1988, em uma frase da Constituição: artigo 5º, inciso um: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Um direito que parece óbvio que só veio depois de décadas de reivindicação, uma luta que amadureceu até chegar a um momento histórico.

§  “As mulheres brasileiras, antes da Constituição, eram cidadãs de segunda categoria. Pode parecer incrível, mas nós tínhamos um Código Civil, ainda de 1916, que regia a vida familiar, onde o homem era o chefe da sociedade conjugal”, ressalta a socióloga e ex-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher Jacqueline Pitanguy.

§  Até 1962, mulheres casadas precisavam da autorização de seus maridos para trabalhar fora!

Hoje, é até difícil imaginar a vida sem alguns direitos que naquela época eram novidade absoluta:

·        A união estável: “A Constituição de 1988, não só admite a condição de companheira, como reconhece o direito à herança e a uma parte na divisão dos bens em caso de separação”, falava reportagem do Fantástico de 1995.

·        A licença-maternidade: “Um dos primeiros destaques a serem votados foi o que garante 120 dias de licença para mulher gestante: ‘Ela assegura, na lei complementar, incentivos para que a mulher tenha o ingresso e seja protegida no seu mercado de trabalho. Eu acredito que essa emenda representa a vontade das mulheres brasileiras'”, explica Rita Camata em reportagem na época da votação

E uma das principais forças da nossa Constituição está no artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

Saindo do meu lapso de distração ocasionado pela série, fui surpreendida por um misto de emoções enquanto refletia: alegria pelas nossas conquistas alcançadas, tristeza por ver tudo que passamos para chegar até aqui e indignação, pois, apesar de todo esse avanço, ainda passamos por tantas desigualdades.

Junto a isso, relaciono todas essas informações com a história da minha mãe, a qual também é a minha história.

Sou filha de pai alcoólatra e senti na pele a dor da submissão, ao ver minha mãe não ter o poder de escolha.

Na época que meus pais se casaram, meu pai não quis mais que minha mãe trabalhasse. Isso era na década de 60, o homem era o principal, o único provedor de renda da casa, e minha mãe obedeceu ao marido, virou dona de casa.

Essa vivência me marcou das mais diversas formas e a principal delas foi que eu sabia que não queria passar pelo que minha mãe passou: a dor de não poder escolher, não poder ir embora. Isso fez com que desde os meus 16 anos eu começasse a trabalhar para ter minha independência. Felizmente, hoje posso dizer não somente que a alcancei, mas que por meio do meu trabalho, posso ajudar outras mulheres a alcançá-la também.

E quando eu falo sobre poder de escolha, eu quero chamar sua atenção sobre você ter sua própria vida e decidir se quer ir ou se quer ficar, se aceita tudo que está acontecendo porque quer ou porque não pode mudar.

Mas o que isso tem a ver com finanças, investimentos, profissão?! Tudo!

Mesmo com todas as conquistas que a Constituição nos trouxe, ainda vemos muitas mulheres submissas, sofrendo abusos e agressões, e as pesquisas mostram isso:

Segundo dados do relatório Investor Watch, realizado pela UBS em 2019 (mais recente disponível):

●      No Brasil, 45% das mulheres têm as finanças controladas pelo parceiro

●      Entre as mulheres de 20 a 34 anos, 40% as delegam para o cônjuge essa responsabilidade.

●      Entre as que dividem ou não compartilham a administração das finanças, os principais motivos para fazerem as escolhas sobre o dinheiro são a confiança para tomar decisões, não ter surpresa com o orçamento em caso de separação ou morte e saber o que está acontecendo com a carteira em caso de uma crise financeira.

Segundo dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) que abrangem atos de violência física, sexual, psicológica, moral e patrimonial

●      Brasil tem mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022

Resumindo, meu objetivo aqui é apenas um: mostrar que o fato de a mulher ter o controle de suas finanças diminui as chances de serem vítimas inclusive de um relacionamento abusivo, de serem submissas em uma relação ou até mesmo de não terem o poder de escolha.

            Tem um livro que gosto muito e que vale a leitura: “Mulheres que Lucram, da Francine Mendes – ela é CEO da plataforma Elas Que Lucrem, educadora financeira para mulheres, economista pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em psicoanálise e psicoterapia de consumo pela Universidade Kennedy.

Nesse livro ela traz muito sobre a história de vida dela, sobre precisar recomeçar sua história, sobre ser mãe, sobre traição e sobre sua depressão. Esse livro é um guia de como ter independência emocional e financeira.

Alguns trechos do livro que gosto muito:

●      “Quando falo sobre ter liberdade de escolha é a capacidade de você transformar sua própria vida e se empoderar de verdade.”

●      “É você ter liberdade de fazer escolhas em todas as esferas da sua vida, mantendo suas emoções sob controle e o dinheiro bem administrado.”

●      Francine Mendes traz isso bem claro em seu livro: ” Quando percebi que meu padrão de vida junto dos meus filhos e tudo que gostava de fazer permaneciam inalterados, independentemente de quem estivesse comigo ao meu lado, nasceu em mim um amor tão intenso quanto exclusivo pela pessoa que eu havia me tornado.”

●      “A independência de dá segurança para não precisar mais sustentar relacionamentos abusivos e que te distanciam dos seus sonhos.”

Compartilhar essas histórias é mostrar a importância da capacitação emocional e da educação financeira como impulsionadoras dos nossos talentos e sonhos. É isso que venho fazendo a minha vida toda, estando em constante mudança e evolução.

Não estou aqui romantizando nossas profissões ou condição de vida, mas mostrando que é possível fazer, porém é preciso sair da nossa zona de conforto e lutar pelo que acreditamos. É fácil? Não! Mas não há nada mais libertador como ser responsável por nossas escolhas.

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