Adultos com chupeta: tendência das redes ou alerta psicológico?
A psicóloga Vanesa Bagio alerta que o uso de chupeta por adultos, popularizado nas redes sociais, pode indicar fuga emocional e demanda atenção psicológica.

Nesses últimos meses, as redes sociais têm sido palco de um fenômeno curioso ou será doentio? Adultos usando chupeta como forma de aliviar estresse, melhorar o sono ou até reduzir compulsões. Embora possa parecer apenas uma moda passageira, o hábito desperta reflexões importantes sobre saúde mental e os mecanismos de enfrentamento emocional.
Sendo especialista em saúde mental e desenvolvimento humano, acredito que essa prática não deve ser analisada apenas pelo objeto em si, mas pelo significado que ele carrega. Vejo como um movimento de busca por alívio imediato diante de um mundo cada vez mais acelerado. A chupeta, por estar ligada simbolicamente ao cuidado e à infância, traz a sensação de aconchego e segurança. No entanto, não é a chupeta em si que reduz o estresse, mas o significado que o adulto atribui a ela.
Ainda que pareça inofensivo, o uso pode estar relacionado a um processo inconsciente de regressão à infância, onde o adulto tenta resgatar momentos de proteção e acolhimento. Observa que esse fenômeno ganha força com a amplificação das redes sociais, que transformam comportamentos individuais em tendências coletivas. Diversos usuários afirmam que a chupeta auxilia no sono, na compulsão alimentar e até em processos de abstinência de álcool e cigarro. Porém, ressalto que não há evidências científicas sólidas que sustentem essas alegações. O que pode ocorrer é um efeito placebo: a pessoa acredita que o objeto está ajudando e, consequentemente, sente uma melhora temporária. Mas não há estudos que comprovem que a chupeta substitua estratégias terapêuticas ou médicas.
Um ponto de atenção está na frequência e no impacto que esse hábito pode ter no cotidiano, ou seja, se o uso é pontual e não interfere nas responsabilidades do adulto, pode até ser inofensivo, mas se vira a única ferramenta de enfrentamento, passa a ser um mecanismo de fuga, porque não ajuda a resolver as causas da ansiedade, apenas mascara os sintomas.
Entre os riscos psicológicos associados, está a dependência emocional de um objeto externo para regular sentimentos internos. Isso pode fragilizar a autonomia do indivíduo e dificultar o desenvolvimento de habilidades de enfrentamento mais maduras e esse movimento também reflete um aspecto cultural. Acredito que por vivermos em uma sociedade que oferece inúmeras formas de evitar o desconforto, desde as redes sociais até o consumo imediato, a chupeta entra como mais um símbolo dessa dificuldade em lidar com frustrações e responsabilidades. Embora possa ser comparada a comportamentos repetitivos como roer unhas ou balançar a perna, a chupeta possui um peso simbólico mais profundo, diretamente associado à infância e ao colo materno. Essa característica a diferencia de outros hábitos automáticos de alívio de tensão.
Outro ponto de alerta é que o uso pode retardar a busca por ajuda profissional. Pois muitas vezes, a chupeta dá uma sensação de alívio imediato, mas por trás disso pode existir um quadro de ansiedade, depressão ou compulsão não tratado. O risco é acreditar que encontrou uma solução, quando na verdade os sintomas estão apenas sendo mascarados.
De forma geral, o uso pode ser considerado inofensivo quando não afeta a vida social, profissional ou a autoestima do indivíduo. No entanto, torna-se preocupante quando evolui para dependência, gera vergonha, afasta da convivência social ou se torna indispensável para relaxar.
Esse comportamento revela o quanto buscamos consolo rápido para nossas dores emocionais. Em muitos casos, mais do que uma tendência, é um pedido silencioso de acolhimento e suporte psicológico verdadeiro e não deve ser tratado apenas como uma curiosidade das redes, mas como um reflexo do tempo em que vivemos.
O fenômeno dos adultos com chupeta pode parecer excêntrico à primeira vista, mas revela questões profundas sobre como lidamos com ansiedade, frustração e responsabilidades. Como destaquei, o comportamento não deve ser encarado apenas como moda: ele pode ser um sintoma de uma geração que busca consolo rápido, mas que, em muitos casos, precisa de suporte emocional verdadeiro.
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