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Entre a lei e a vida real, mulheres que protegem, orientam e transformam

Por Ligado no Sul09/12/2025 18h38
Foto/Redação

O programa Papo Empreendedor reuniu duas referências no Sul de Santa Catarina para discutir liderança feminina, propósito profissional e o impacto do serviço público na vida das pessoas. A advogada e administradora Charlene Cruzetta — especialista em Direito Previdenciário com mais de 13 anos de atuação, sócia da Bussulo & Cruzetta Associados, integrante da Comissão de Direito Previdenciário da OAB e da FASCISC, além de comentarista fixa da Rádio Guarujá no quadro Simplificando a Previdência , dividiu a mesa com a delegada regional de Laguna, Vivian Garcia Selig, que soma quase 20 anos de Polícia Civil, é especialista em Ciências Criminais, Gestão Pública e Direitos das Mulheres, autora de três livros (dois deles infantis), “Crescer – Um Ato de Coragem” e “A Estrelinha – Uma História sobre Determinação”. As obras têm como principal fonte de inspiração suas vivências com os filhos. Vivian é uma das principais vozes da região em políticas de proteção e inovação na segurança pública.

Entre administração e direito: como nasce uma profissional empreendedora

Charlene começou sua trajetória pela Administração, área que abraçou por necessidade: “Meu sonho sempre foi seguir a carreira jurídica, eu queria ser juíza. Só que eu precisava trabalhar, e a faculdade que abriu foi Administração.” Mais tarde, já formada, iniciou Direito — escolha que, segundo ela, redefiniu seu modo de atuar.

“A combinação das duas formações foi perfeita. O Direito não oferece visão de negócios, não traz a lógica do empreendedorismo. Com Administração, eu passei a olhar o escritório como empresa”, diz. E

Aos 22 anos, recém-formada, Charlene assumiu a Secretaria de Administração de Orleans,  um dos cargos mais estratégicos de uma prefeitura. A experiência veio carregada de desafios e preconceitos.

“Eu era mulher, jovem, e isso já gerava muita desconfiança. Ouvi coisas como ‘está ali porque tem costa quente’. Eu tinha que mostrar muito mais do que os outros”, conta.

Apesar da resistência, ela permaneceu por quatro anos e meio no cargo e diz que a vivência a obrigou a se posicionar, a aprender a falar em público, algo que, na época, a apavorava e a desenvolver uma liderança baseada em escuta.

A  sociedade exige das mulheres maturidade e firmeza precoce, enquanto homens jovens na mesma posição raramente enfrentam a mesma cobrança. Ainda assim, Charlene destaca que as dificuldades a impulsionaram: “A gente nunca vai estar totalmente preparada. Precisa aceitar a oportunidade e se preparar no caminho.”

Vivian Selig e a descoberta gradual do propósito de servir

Vivian entrou para a Polícia Civil em 2006, aos 24 anos. A motivação inicial era financeira, não vocacional. “Eu precisava muito passar em um concurso para me sustentar. O propósito não cai como ficha automática”, afirma.

Com o tempo, percebeu que seu trabalho só fazia sentido quando voltado ao outro: “Ficou muito evidente para mim que estamos aqui para servir. Quando faço apenas o que me beneficia, isso não transforma a sociedade.”

Atuando em Joinville no início da carreira, Vivian enfrentou desconfiança por ser jovem e mulher. Ela conta que o respeito veio com o tempo, pela firmeza ao discordar de decisões internas e pela capacidade de argumentar.

“Eu tinha chefia masculina muito antiga na instituição. Muitas vezes tive que me levantar e dizer: ‘não concordo, precisamos fazer diferente’”, lembra.

A experiência revela uma mudança lenta, não revolucionária — uma sucessão de pequenas rupturas dentro de estruturas rígidas. Vivian provoca: “A gente cria uma necessidade de estar perfeita em todos os lugares. Nenhuma mulher vai estar. Perfeição não existe.”

Violência contra mulheres: dados brutais, frustrações e limites institucionais

A delegada reconhece que a violência contra mulheres continua sendo o aspecto mais duro de sua rotina. “Mesmo com tudo que fazemos, às vezes parece que estamos enxugando gelo”, desabafa.

Segundo a ONU, uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física ou sexual. Para Vivian, os números só mudam quando o país enfrentar suas raízes culturais: “Homens e mulheres são machistas. Crescemos dentro de uma sociedade patriarcal. O comportamento só muda quando a gente se percebe e decide fazer diferente.”

O reconhecimento de que até agentes públicos reproduzem mesmo sem querer —padrões machistas lança uma crítica complexa: políticas de prevenção não avançam porque o problema não é só institucional, é cultural. Ainda assim, Vivian afirma que educação, políticas sociais e participação comunitária continuam sendo caminhos possíveis.

Direito Previdenciário: desinformação, mudanças e mitos persistentes

O currículo de Charlene na área previdenciária dá peso às suas críticas sobre a falta de conhecimento da população. “Não me assusta que mais de 70% tenha dúvidas. A lei muda o tempo todo. Em seis meses, uma regra já pode ter sido substituída.”

Charlene foi direta ao explicar um ponto que costuma gerar confusão especialmente entre mulheres que ficaram anos dedicadas ao cuidado da família. Segundo ela, o imaginário social criou a falsa ideia de que a aposentadoria acontece por idade, independentemente de contribuição. “Não existe aposentadoria sem contribuição. Se a pessoa nunca contribuiu, ela não tem benefício a receber. É duro, mas é a verdade”, afirma.

Foi nesse contexto que ela esclareceu algo essencial, mas pouco falado: qualquer pessoa pode iniciar voluntariamente o pagamento ao INSS. Charlene reforçou que o sistema permite regularização gradual, e essa contribuição pode começar a qualquer momento, sem necessidade de vínculo formal.

“É possível começar do zero. A pessoa pode se inscrever como segurada facultativa e iniciar os pagamentos mensalmente. Não precisa de emprego registrado para isso. O INSS é contributivo, mas também é acessível quando as pessoas entendem as regras”, explicou.

Ela ainda alertou que o atraso em começar o recolhimento tem impacto direto no futuro. Muitos acreditam que podem “resolver depois”, mas, segundo Charlene, isso raramente acontece: “Quanto mais tarde, mais difícil fica. E tentar pagar retroativo nem sempre é permitido. Às vezes, as pessoas chegam no escritório buscando recuperar anos que não contribuíram e não podem.”

Delegacia, humanidade e respeito: a gestão pelo vínculo

Vivian explica que sua abordagem com pessoas presas é pautada pelo respeito: “O criminoso é um ser humano com direitos. Nunca tive alguém que me ofendesse. Eles chegam vulneráveis, e cabe a mim explicar direitos, orientar.”

Segundo ela, essa postura gera impacto: “Muitas vezes choram. Depois, voltam para agradecer. Dizem que eu os tratei como pessoa.”

Embora alguns possam considerar essa visão idealista diante de crimes graves, a delegada sustenta que a humanização não é fraqueza  é política pública.

Conheça um pouco mais sobre cada convidada

Vivian Garcia Selig

Livro que mudou sua vida? Mulheres que correm com lobos  e outros, gosto muito de livros que me fazem refletir sobre a vida
Um sonho ainda não realizado? Conhecer a Itália
Maior conquista que te enche de orgulho? Os meus filhos
Medo que te impulsiona a melhorar? Os meus filhos
Uma decisão que você repensaria? Nenhuma
Um desejo que ainda não colocou em prática? Viajar mais
Qual hábito diário mais impacta positivamente sua vida? A leitura
Um filme ou série para indicar? São vários: O conto de Aia,  This Is Us e Pobres criaturas
Qual conselho você daria ao seu eu mais jovem? Não se exija tanto, você não é responsável pelo outro
O que seria seu “luxo” essencial? Banho, pijama, sofá e um vinho
Onde você se vê daqui a 5 anos? Trabalhando na delegacia e meus filhos com saúde

Charlene Cruzetta

Livro que mudou sua vida? Quem mexeu no meu queijo
Um sonho ainda não realizado? Conhecer a Disney
Maior conquista que te enche de orgulho? Ter seguido a minha carreira e ter conquistado tudo o que conquistei sozinha
Medo que te impulsiona a melhorar? O medo de ficar parada e não acompanhar as mudanças
Uma decisão que você repensaria? Ter demorado para acreditar em mim
Um desejo que ainda não colocou em prática? Cantar no coral da igreja
Qual hábito diário mais impacta positivamente sua vida? Exercício físico
Filme ou série que te inspira a empreender? Fome de poder
Qual marca você quer deixar para o mundo? De que as mulheres precisam acreditar em seu potencial
Música pop ou rock que te dá energia? Roupa Nova
O que seria seu “luxo” essencial? Andar bem arrumada
Onde você se vê daqui a 5 anos? Estudando bastante e se possível explorando outras áreas, outras oportunidades

Confira o programa completo

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