Pesquisa da Fiesc revela impactos da tarifa dos EUA sobre indústrias catarinenses
Levantamento aponta que setores como madeira e móveis podem sofrer prejuízos graves; quase 70% das empresas já buscam novos mercados

A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) divulgou os resultados de uma pesquisa feita com empresas exportadoras para avaliar os impactos da tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O estudo mostra que o efeito será desigual entre os setores, mas aponta para prejuízos severos em áreas estratégicas da economia catarinense, especialmente no segmento de madeira e móveis.
O economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, explicou, em entrevista ao Jornal da Guarujá, que alguns setores podem sofrer consequências mais duras do que outros, mas todos terão algum nível de impacto.
“Especialmente no segmento de madeira e móveis, que tem grande exposição ao mercado dos Estados Unidos, a gente pode ter um problema muito grave. Já outros setores, como a cerâmica que é bastante importante para a região, metais, metalmecânica, máquinas e equipamentos, além de produtos como mel e erva-mate, também vão ter impactos específicos, que podem gerar desemprego e problemas sérios para as empresas”, disse.
Segundo Bittencourt, a pesquisa avaliou não apenas a dependência dos mercados externos, mas também aspectos financeiros das companhias, como nível de endividamento, para ajudar o governo estadual a definir medidas de mitigação.
“Muito do nosso esforço foi nesse sentido e acho que logramos êxito nesse trabalho. Trabalhamos junto com o governo do Estado e, em breve, devem ser anunciadas medidas para minimizar os efeitos dessas tarifas elevadíssimas”, afirmou.
“Sinal vermelho” para exportações
O economista destacou que a tarifa de 50% funciona, na prática, como um bloqueio para boa parte dos produtos exportados, e alertou para o risco de perda de clientes consolidados.
“Com uma tarifa de 50%, ela é impeditiva para a exportação de grande parte dos produtos durante algum tempo. É difícil o cliente norte-americano trocar de fornecedor do dia para a noite. Mas, ao procurar, ele vai encontrar concorrentes, especialmente na Ásia, capazes de entregar com preço menor. E, uma vez que você perder o cliente, vai ficar difícil de recuperar. É um trabalho de 20, 30 anos de construção que pode se perder”, alertou.
Ele também lembrou que os efeitos já começaram a ser sentidos mesmo antes da entrada em vigor da medida.
“A incerteza fez com que os clientes nos Estados Unidos parassem de fazer pedidos. Muitas vezes, o contrato estava assinado, mas o cliente voltou atrás. Isso deixou empresas sem produção, levando a férias coletivas e, se o cenário continuar, o próximo passo natural são as demissões”, relatou.
Empresas buscam alternativas
De acordo com o levantamento, 826 empresas catarinenses exportaram para os Estados Unidos em 2024. Dessas, 144 participaram da pesquisa, e quase 70% afirmaram que já estão buscando novos mercados para escoar sua produção.
“Encontrar um cliente que se adapte ao produto que agora está bloqueado pelas tarifas é mais difícil. Esse processo leva tempo, às vezes anos. Se isso durar muito, teremos um longo período de adaptação e dificilmente vamos alcançar o mesmo desempenho que temos em um mercado consolidado”, concluiu Bittencourt.
Confira entrevista completa