Sempre correndo, nunca chegando: a ilusão da urgência contínua. Por Vanesa Bagio
“Estilo de vida acelerado pode gerar estresse crônico e comprometer saúde física e emocional.”

A cena se repete todos os dias: despertador tocando cedo, café apressado, agenda cheia, correria no trânsito, tarefas acumuladas, notificações no celular que não param. No fim do dia, a sensação é uma só: “Fiz tanto, mas parece que não fiz nada”.
Esse sentimento frequente de insuficiência está longe de ser um problema individual. Trata-se de um fenômeno contemporâneo cada vez mais estudado: a ilusão da urgência contínua.
Esse senso de urgência, quando bem dosado, é saudável. Ele nos ajuda a reagir com foco e agilidade diante de situações críticas. Mas viver nesse modo o tempo todo tem consequências perigosas. Quando tudo é urgente, nada é prioridade. O corpo e a mente entram num estado de alerta constante, como se estivéssemos o tempo todo diante de uma ameaça invisível.
Na prática, isso significa que o organismo ativa o chamado sistema nervoso simpático, responsável pelas reações de luta ou fuga. Essa ativação contínua pode levar a um quadro de estresse crônico, gerando sintomas como ansiedade, irritabilidade, insônia, problemas digestivos e até dificuldade de memória e concentração.
Podemos reconhecer esse padrão comportamental como síndrome da pressa, ou seja, quando a pessoa sente urgência constante, mesmo sem necessidade real. Está no hábito de falar rápido, não olhar para as pessoas durante uma conversa, se irritar com filas, checar o celular o tempo todo, realizar várias tarefas ao mesmo tempo e sentir culpa ao descansar.
Por trás dessa urgência crônica, muitas vezes existe uma necessidade de validação externa. Ou seja, o indivíduo busca se sentir útil, produtivo e reconhecido o tempo todo, como se sua autoestima estivesse diretamente ligada ao quanto ele faz — e não ao que ele é.
A boa notícia é que é possível sair desse ciclo. O primeiro passo é tomar consciência do ritmo de vida atual e avaliar o que realmente tem valor. Desacelerar não é sinônimo de fracasso. Ao contrário, é um movimento de inteligência emocional e coragem, especialmente em uma cultura que glorifica o excesso de produtividade.
Sugiro incluir pequenas pausas ao longo do dia, aprender a dizer “não” sem culpa e criar momentos de silêncio e reflexão. “Muitos pacientes relatam que, ao desacelerar, percebem que estavam correndo por medo de não serem bons o bastante, e não por um propósito real.
Refita sobre: “A pergunta que devemos fazer não é ‘o que falta fazer?’, mas sim ‘para onde estou indo com tanta pressa?’”
Fique bem!
Siga @vanesabagio.psi para buscar mais informações e lembre-se: “Sua saúde mental importa tanto quanto qualquer outra área da sua vida.”