Os danos da linguagem neutra para língua padrão. Por Ana Dalsasso

Dentre tantos absurdos que temos visto no país nos últimos tempos, talvez a mudança mais insana que está sendo proposta seja a tal “linguagem neutra”, já comentada aqui neste espaço, mas que se fazem necessárias discussões constantes em virtude das últimas informações que nos chegam sobre a interferência da “suprema corte” nos municípios que optaram por dizer não à linguagem neutra. A educação não é competência do STF; à corte compete a manutenção da ordem e promoção da harmonia na nação.
De acordo com Constituição Federal em seu Art.13 “a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”. É fruto de dezenas de anos de prática, organizada por regras e é a representação da cultura do povo. Mudanças são frutos de muito estudo por especialistas na área e não por juízes.
Nos últimos anos, o debate sobre a linguagem neutra tem ganhado espaço na sociedade brasileira, impulsionado por movimentos em prol da inclusão e da representação de gênero na língua portuguesa. A proposta é que a utilização de expressões que não se submetam aos gêneros masculino e feminino ajude a criar um ambiente mais inclusivo. Contudo, a adoção da linguagem neutra levanta questões sobre os prejuízos que essa prática pode trazer para a norma culta da língua portuguesa e para a comunicação formal e institucional.
Um dos principais prejuízos da linguagem neutra é a sua vulnerabilidade à ambiguidade. A introdução de terminações como “-e” ou o uso de símbolos, como o “@” ou o “*”, em vez das terminações tradicionais de gênero, pode tornar as construções de frases confusas e difíceis de entender. Por exemplo, em vez de utilizar “alunos” ou “alunas”, a proposta sugeriria “alunes”, o que pode gerar incertezas sobre a referência à pluralidade. Em um contexto educacional, essa confusão pode comprometer a clareza das mensagens e dificultar a compreensão por parte dos alunos.
Outro aspecto a ser considerado é o impacto da linguagem neutra na norma padrão da língua, que é amplamente utilizada em contextos formais, como na literatura, na imprensa e nos documentos oficiais. A língua padrão cumpre funções importantes de padronização e entendimento comum entre os falantes. A introdução de uma linguagem neutra pode desestabilizar essa norma, criando falhas que prejudicam a comunicação eficaz. Assim, é essencial que a norma culta permaneça como um referencial de clareza e coesão na língua.
Além disso, a linguagem neutra pode gerar resistência e polarização social. Embora a intenção seja promover a inclusão, a imposição de novas regras linguísticas pode levar a um desacordo nas esferas sociais e acadêmicas. A linguagem é uma construção social que reflete as interações de seus usuários; portanto, qualquer tentativa de implementar uma nova norma requer um consenso que, até o momento, não parece existir. Isso pode resultar em divisões entre aqueles que defendem a linguagem neutra e os que a veem como uma ameaça à tradição linguística.
Por último, a adoção da linguagem neutra pode desviar o foco das questões pertinentes sobre igualdade e justiça social. Ao invés de centrarem-se em ações concretas e mudanças nas estruturas sociais que perpetuam a exclusão, o debate pode tornar-se excessivamente centrado na forma da linguagem, o que pode acabar esvaziando a discussão sobre os direitos e a representação efetiva de diferentes grupos na sociedade.
Embora a proposta de uma linguagem neutra busque promover a inclusão e representar de forma mais justa as diversas identidades, os prejuízos para a língua padrão e para a comunicação eficaz são notáveis. A ambiguidade, a desestabilização da norma culta, a polarização social e a distração das questões essenciais sobre igualdade revelam os desafios dessa implementação. Portanto, é crucial que o debate sobre a linguagem neutra seja conduzido de forma a considerar não apenas as intenções inclusivas, mas também os impactos práticos que essa prática pode ter sobre a língua e a comunicação na sociedade. A busca por uma linguagem mais inclusiva deve caminhar lado a lado com o respeito pela clareza e pela norma linguística.
Enfim, aderir à ideia da linguagem neutra é desconstruir a bela e culta Língua Portuguesa. Se eu pudesse perguntaria aos ministros: é legal em nome da inclusão dos indefinidos, roubar o direito dos definidos que são maioria?
*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor.