“Ou nos omitimos, ou vamos à guerra”: delegado de SC reforça combate ao crime organizado
Em visita ao Rio, Ulisses Gabriel apoia consórcio interestadual de segurança, critica atuação do governo federal e contesta pesquisas de UFSC e UDESC sobre formação policial.
 
                                    O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, acompanhou nesta semana o governador do Estado, Jorginho Mello (PL), em visita oficial ao Rio de Janeiro, visando apoio à megaoperação realizada no estado vizinho. A comitiva dos catarinenses esteve reunida com o governador Cláudio Castro (PL-RJ) e com outros governadores para tratar da criação de um consórcio de segurança pública interestadual.
Na manhã desta sexta-feira (31), em entrevista exclusiva ao Jornal da Guarujá, o delegado Ulisses Gabriel detalhou o encontro.
“Nós estivemos ontem no Rio de Janeiro, durante todo o dia, em reuniões com o governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e com outros governadores de estado, como o governador Ronaldo Caiado (Goiás), o governador Romeu Zema (Minas Gerais), a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, também o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Ríedel, e o governador Tarcísio de Freitas, para criarmos aí uma força-tarefa e uma ação de apoio ao estado do Rio de Janeiro, e também um consórcio para que nós possamos ter um foco nacional em segurança pública, para que o trabalhador brasileiro possa, de uma vez por todas, ter uma sensação de segurança melhor.”
O delegado explicou ainda que a criaçao deste consórcio busca uma integração entre os estados que queiram participar na troca de informações, grandes investimentos em segurança pública e troca de apoios operacionais e de inteligência.
“ O foco principal foi a criação desse consórcio interestadual para que nós possamos nos tornarmos mais fortes aí no combate ao crime.”
Durante a conversa, o delegado fez críticas incisivas à atuação federal no controle das fronteiras e no financiamento da segurança pública.
“Uma das preocupações que foram levantadas é sobre as armas e as drogas que entram aqui no Brasil. E o motivo do qual o governo federal, critica as operações policiais que são realizadas, ao invés de se preocupar com a fronteira. O governo federal não se preocupa com a fronteira, não utiliza, por exemplo, o Exército Marinheiro para o controle das fronteiras. A nossa fronteira é uma peneira e entra tudo quanto é tipo de arma e droga pela fronteira. O investimento em segurança pública do orçamento do governo federal é de dois e meio por cento. Para se ter uma ideia. Santa Catarina investe quase 8% do seu orçamento em segurança pública.”
Ele ainda comentou a megaoperação do Rio de Janeiro, que segundo ele “com exceção da morte dos policiais foi um sucesso.”
“A operação foi exitosa, lamentavelmente e de forma muito triste, dois policiais civis perderam a vida, dois policiais militares perderam a vida e ontem, um delegado da delegacia de Repressão de Entorpecentes acabou tendo a perna amputada em razão de um tiro de fuzil que recebeu. E automaticamente isso foi o maior problema da operação. Mas a gente está num estado de guerra.”
Para Gabriel, os criminosos criaram “feudos” em territórios dominados, usando poder bélico e infraestrutura paralela.
“Vivemos num momento de guerra porque esses criminosos… eles tomaram territórios e dentro desses territórios eles estão com um poder bélico muito forte, com armas … e criaram feudos, onde eles exploram o comércio, exploram o mototáxi, exploram vans, exploram aluguéis, exploram água, energia, além de explorar Internet … e cobrança de tributos das pessoas que têm comércio.”
Ele concluiu. “Quando a gente vai enfrentar um estado paralelo … automaticamente é difícil enfrentar sem que haja uma guerra.”
A respeito de manifestações recentes, o delegado citou posição do governador Cláudio Castro.
“Se uma pessoa na Itália, na Alemanha, na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos aparecer na rua, numa praça pública portando um fuzil ilegalmente, ele não vai ficar 20 minutos vivo. Então por que que no Brasil, o traficante pode ficar portando fuzil sem que haja uma reação do estado?”
Ele ainda fez uma crítica ao presidente da República.
“Em nenhum lugar do mundo há um presidente da república estaria de preto em homenagem a bandidos criminosos, a não ser no Brasil. Ontem o presidente da república estava de preto, como se tivesse de luto pela morte de criminosos, que país é esse onde se enaltece a prática de crime.”
Pesquisa Udesc e UFSC
Sobre a pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), que propõe formação policial voltada à cidadania, combate ao racismo e direitos humanos, o delegado afirmou.
“A gente respeita os direitos, a gente respeita a lei. A polícia respeita a lei, o criminoso não respeita. Já começa por aí essa questão.”
O delegado da polícia civil também questionou a representatividade da pesquisa.
“Quem respondeu essa pesquisa foram cento e quinze pessoas que participaram de treze rodas de conversa durante três anos provavelmente foram os traficantes, pessoas vinculadas aos traficantes que não querem que a polícia chegue lá. Na verdade o que eles querem é que a polícia não vá mais para essas comunidades, para esses locais para que aconteça igual no Rio de Janeiro e essas comunidades tenham o poder do traficante.”
Ao concluir, Ulisses reforçou que a polícia deve agir de forma firme para retomar esses espaços, garantindo a proteção do cidadão comum e combatendo a impunidade.
“Já disse várias vezes… na polícia e na vida ou a gente se omite ou a gente se corrompe ou a gente vai pra guerra. E parece que pessoas de pautas ideológicas querem que a gente se omita ou se corrompa, mas a gente não vai fazer isso. As pessoas de bem querem ir pra guerra e querem fazer com que a sociedade esteja cada vez maior e cada vez mais segura.”
Confira entrevista completa
 
                                                