No Dia Mundial do AVC, um alerta que vai além da idade
A história de Gizelle Maurício Silva, moradora de Laguna, mostra que a doença não atinge apenas idosos e reforça a importância de buscar atendimento diante de qualquer sinal neurológico incomum
Hoje, Dia Mundial do AVC, a lembrança é clara: apesar de ser uma condição com maior incidência em pessoas acima de 60 anos, o acidente vascular cerebral não escolhe apenas idosos. E a história de Gizelle Maurício Silva, moradora de Laguna que sofreu um AVC isquêmico aos 30 anos, acende um alerta para qualquer alteração neurológica incomum, por menor que pareça, procurar atendimento médico pode ser decisivo.
No dia 1º de agosto de 1997, em uma sexta-feira comum de trabalho, Gizelle percebeu que algo estava fora do normal. “Olhei para baixo e parecia que o chão estava abrindo buracos”, lembra. A visão distorcida foi acompanhada por uma enxaqueca intensa que durou cinco dias, dor que ela tentou administrar com remédios e rotina, sem imaginar que seu cérebro estava sob ataque.
Sem imaginar a gravidade, ela seguiu a rotina. Trabalho, casa, quatro filhos. “Tomava remédio e continuava”.
No dia 5, ainda com dor persistente e sintomas estranhos, decidiu buscar atendimento com um neurologista recém-chegado à cidade, Dr Flávio Bilibio. O neurologista percebeu imediatamente que Gizelle havia perdido toda a sensibilidade do lado esquerdo do corpo. “Ele não me deixou ir embora. Fui direto para o hospital”, conta.
“Eu andava, mas não sentia. Não percebi quando me beliscavam, quando me espetavam. Era como se metade do meu corpo tivesse desligado”, completa.
Foram 29 dias entre exames e hipóteses: tumor, meningite, infecção. Até que veio a confirmação: AVC isquêmico.
Gizelle lembra que em um momento vivia o dia-a-dia de uma trabalhadora, mãe e esposa e num piscar de olhos, estava no hospital, cheia de medos, mas com uma única certeza: a de poder viver e voltar para a casa, para os seus filhos.
Nos anos seguintes, a vida virou uma combinação de consultas, exames e readaptação. Por quase três anos, Gizelle conviveu com sintomas, dores de cabeça, crises emocionais e medo, não apenas do corpo, mas da vida que parou. Depressão, síndrome do pânico e o peso de ver os filhos pequenos, Taise e Denise, gêmeas com 11 anos, Tamires e Guilherme, gêmeos com 6 anos e o marido, José Antônio, lidando com a incerteza diária.
Sem dor no lado afetado, chegou a queimar a mão ao tirar uma travessa do forno. “Choramos muito. chorei não pela dor que eu não sentia e sim pelo desespero nos olhos da minha família.”
A explicação médica veio duas décadas depois: Forame Oval Patente, uma pequena abertura no coração presente desde o nascimento, que favorece a formação de trombos. “Aos 50 anos entendi a causa. Hoje sigo com prevenção e acompanhamento.”
Sequelas permanentes não ficaram, mas o medo, sim. “O corpo fala. Minhas dores de cabeça sempre foram intensas, e eu ignorava. A rotina, o estresse, a automedicação… tudo cobrou um preço.”
Gizelle reconhece que ignorou dores crônicas e se automedicou com frequência, algo comum, sobretudo entre mulheres com múltiplas jornadas.
O tempo trouxe de volta a sensibilidade e trouxe também novas prioridades. A enxaqueca e o medo permanecem quase que diariamente e no momento da entrevista ela lembra que uma nova ida ao neurologista é necessária. “Preciso marcar neuro para uma nova avaliação, já que a enxaqueca não me abandona e sempre há novos tratamentos. Dor persistente não é normal”.
Gizelle que hoje tem 58 anos, é mãe de quatro filhos e hoje celebra uma família que se multiplicou: quatro netas e um neto a caminho. “Quando olho para eles, penso no que quase perdi. E penso no que ganhei: todos os dias de novo.”
No Dia Mundial do AVC, buscar avaliação médica não é exagero, é prudência. Embora muitas pessoas enfrentem barreiras no acesso ao atendimento, insistir, procurar os serviços de saúde e não normalizar sintomas persistentes pode ser a diferença entre sequelas graves e uma recuperação completa. Quando o corpo muda, ouvir e agir é um ato de cuidado e, muitas vezes, de sobrevivência.

Graças a féque temos, Deus nos ajudou.
Matéria necessária e que pode salvar vidas! Parabéns por descrever tão bem a nossa história.