Crise no leite: setor pressiona governo e pede suspensão temporária das importações
Entidades do setor lácteo cobram do governo um pacote urgente de seis medidas para conter perdas e evitar agravamento da crise na produção.
As principais entidades que representam a cadeia produtiva do leite no país pedem que o governo federal adote, com urgência, um pacote de medidas para conter o que definem como uma das piores crises já enfrentadas pelo setor. Entre as reivindicações estão auditorias em importações, compra pública de leite em pó e suspensão temporária da entrada de produtos estrangeiros.
O Jornal da Guarujá conversou nesta sexta-feira (7) com Selvino Giesel, presidente do Conseleite-SC, que apontou desequilíbrio entre oferta e demanda como uma das causas centrais do problema. “O produtor foi estimulado no último ano, tivemos boa safra de grãos e alimento para o gado, e o preço estava compatível com o custo. Houve aumento de produção. Mas o consumo não acompanhou”, afirmou.
Além da queda no consumo interno, comum no período que antecede férias e festas, o setor também cita o avanço das importações, sobretudo de Argentina e Uruguai, em setembro e outubro, meses de maior produção no Brasil. Para Giesel, o cenário é “desalinhado” e agrava a situação do produtor.
Entre as demandas apresentadas por entidades do leite estão:
- Auditoria para investigar possível prática de dumping
- Verificação dos certificados sanitários internacionais
- Exigência de rotulagem completa nos produtos importados
- Fortalecimento da fiscalização de qualidade
- Compra de leite em pó pelo governo para reduzir estoques
- Suspensão temporária das importações por três a seis meses
Segundo o presidente do Conseleite-SC, as medidas são necessárias para evitar saída de produtores e fechamento de indústrias. “O excesso de oferta agora parece bom para o consumidor, mas lá na frente ele pode pagar mais caro”, afirma.
Nos últimos dias, o tema foi debatido em Brasília, com reuniões entre representantes do setor, CNA e ministérios, além de audiências públicas previstas ou já realizadas em estados do Sul.
Do ponto de vista do governo, historicamente há resistência em restringir importações, especialmente no Mercosul. Além disso, manter preços mais baixos de alimentos alivia a inflação, algo politicamente vantajoso e alinhado a interesses macroeconômicos, argumento que costuma tensionar a relação com segmentos do agronegócio.
Apesar das dúvidas sobre até que ponto o Planalto atenderá às demandas, Giesel diz estar com boas expectativas, já que esta é uma mobilização nacional: “Todo o país está se mobilizando. Acreditamos que podemos ser ouvidos em pelo menos algumas reivindicações”.
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