Outubro Rosa vai além do exame: cuidar da mente também é prevenção
A importância de falar sobre emoções e não apenas sobre exames.

Receber o diagnóstico de câncer de mama é um dos momentos mais desafiadores na vida de muitas mulheres. Ao Portal, a psicóloga Vanesa Bagio explica que a reação inicial geralmente envolve um choque emocional profundo.
“Muitas mulheres relatam sentir como se a vida tivesse parado por alguns instantes. Negação, medo, ansiedade, raiva e culpa são respostas comuns nesse primeiro momento. Não indicam fraqueza; fazem parte do processo de assimilação de uma notícia traumática”, diz Vanesa.
Entre os sentimentos mais frequentes, estão o medo do tratamento e das mudanças no corpo, a negação como forma de autoproteção, a tristeza intensa e, em alguns casos, a culpa. “Algumas mulheres pensam ‘será que eu fiz algo errado?’ ou ‘deveria ter me cuidado mais’. É uma reação natural, não um julgamento sobre elas mesmas”, explica a psicóloga.
A psicoterapia oferece um espaço seguro para acolher esses sentimentos e desenvolver estratégias de enfrentamento. Vanesa reforça:
“A aceitação não é imediata. É um processo de construção, no qual a mulher vai recuperando, aos poucos, o senso de autonomia e propósito.”
O acompanhamento deve começar logo após o diagnóstico. Segundo a especialista, ele não só ajuda a lidar com a dor emocional, mas também influencia na adesão ao tratamento e no bem-estar físico.
“Diversos estudos mostram que o equilíbrio emocional contribui diretamente na adesão ao tratamento, na regulação do sono, da imunidade e até na percepção da dor. Cuidar da mente é cuidar do corpo.”
Rede de apoio
Família e amigos são pilares fundamentais nesse processo, mas precisam agir de forma consciente. Vanesa alerta.
“Evite frases como ‘pense positivo’ ou ‘tudo vai dar certo’. Comparações com outras pessoas ou minimizar o sofrimento não ajudam. O que realmente faz diferença é ouvir, validar os sentimentos e oferecer ajuda prática, como acompanhar em consultas.”
O impacto na imagem corporal e na percepção da feminilidade é grande, especialmente após cirurgias como a mastectomia. Sobre isso, Vanesa diz.
“A reconstrução da autoestima começa sem apressar o processo de ‘superação’. Trabalhamos para que a mulher reconheça que a feminilidade vai além da aparência física, resgatando valores, forças e significados pessoais.”
As reações variam com idade, contexto social e experiências de vida. “Mulheres mais jovens sentem maior impacto na autoestima e sexualidade. As mais maduras muitas vezes demonstram resiliência baseada em experiências anteriores”, explica a psicóloga.
Novos sentidos e perspectivas
O câncer muitas vezes funciona como um divisor de águas. Vanesa comenta.
“Muitas mulheres passam a valorizar mais o presente, os vínculos e o autocuidado. A psicoterapia ajuda a integrar o que foi vivido, ressignificar o sofrimento e encontrar propósito na nova fase. Não se trata de ‘voltar a ser quem era’, mas de reconhecer-se novamente, mais consciente e mais forte.”
O papel da mídia
Campanhas como o Outubro Rosa têm avançado na conscientização e na quebra de tabus, mas Vanesa alerta para a necessidade de abordar também a saúde emocional. “Por trás do lenço, há uma história, um medo, uma coragem e uma mulher inteira, que merece ser vista não apenas pela doença, mas pela vida que continua pulsando dentro dela”, conclui.