Dia das Crianças. Por Ana Dalsasso

O Dia das Crianças é tradicionalmente uma data de sorrisos, presentes e festas. No entanto, por trás das vitrines coloridas e das propagandas emotivas, esconde-se uma dura realidade: o Brasil está longe de ser um país que realmente protege e valoriza sua infância. Enquanto milhões de pequenos recebem brinquedos, outros tantos sofrem com a fome, a violência e a falta de oportunidades.
Em pleno século XXI, ainda convivemos com o abuso sexual infantil, crime brutal que destrói vidas e se perpetua pela omissão e pela impunidade. A exploração do trabalho infantil continua a roubar a infância de milhares de meninos e meninas que trocam os brinquedos por ferramentas, o lazer pela exaustão. São crianças invisíveis aos olhos de um Estado que fecha os olhos diante do sofrimento.
A educação, que deveria ser o alicerce do futuro, também padece. Escolas com estruturas precárias, professores desvalorizados e currículos distantes da realidade social contribuem para uma geração sem perspectiva. Além disso, muitas instituições se tornaram ambientes ideológicos, onde a formação crítica e humana cede espaço à doutrinação e à polarização.
Mas não é apenas o Estado que falha. A família, primeira e mais importante base de proteção da criança, também tem se mostrado ausente em muitos lares. Falta responsabilidade, presença e diálogo. Muitos pais, por descuido, negligência ou comodismo, transferem à escola ou à internet o papel de educar, esquecendo que valores, limites e afeto nascem dentro de casa. Sem essa base, cresce uma geração vulnerável, desorientada e facilmente manipulável.
Faltam políticas públicas sérias, investimentos consistentes e, principalmente, vontade política. Um país que negligencia suas crianças — seja por omissão governamental ou pela irresponsabilidade familiar — não tem futuro. São elas que deveriam ocupar o centro das prioridades nacionais: na saúde, na educação, na cultura e no lazer.
Celebrar o Dia das Crianças, portanto, deveria ir muito além do consumo. É tempo de reflexão. De enxergar que o verdadeiro presente para a infância brasileira seria um país onde nenhuma criança sofresse violência, passasse fome ou fosse privada do direito de sonhar.