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Setembro Amarelo e o colapso invisível da saúde mental no trabalho

Quantos trabalhadores estão neste momento a beira de um colapso?

Por Ligado no Sul24/09/2025 14h30
Foto/Divulgação

É nesse ponto invisível que começa a maior parte das histórias que o Setembro Amarelo insiste em nos lembrar: a saúde mental, que também depende dos contextos de trabalho, não se perde de repente, mas aos poucos, dia após dia.

Nos últimos dois anos, o número de benefícios concedidos por transtornos mentais relacionados ao trabalho cresceu 134%, segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, coordenado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT). E, enquanto você lê estas linhas, uma morte no trabalho formal é registrada a cada 3,5 horas no Brasil. Esses números revelam a gravidade do território invisível do sofrimento psíquico, a chamada zona cinzenta entre a saúde e o adoecimento, uma fase silenciosa em que o trabalhador acumula desgaste físico e emocional sem aparecer nas estatísticas, porque ainda não houve afastamento formal.

É justamente nesse ponto, antes do colapso visível, que mora o perigo: se essa etapa não for reconhecida e cuidada, ela inevitavelmente evolui para o esgotamento extremo, seja em forma de burnout, depressão ou crises de ansiedade. O burnout é o resultado um longo período de sobrecarga não tratada.
Os números confirmam o que a experiência de muitos já mostra. De 2012 a 2024, o Brasil registrou 8,8 milhões de acidentes de trabalho e 32 mil mortes no emprego com carteira assinada. Entre as principais causas de afastamento estão acidentários por reações ao estresse (28,6%), ansiedade (27,4%), episódios depressivos (25,1%) e depressão recorrente (8,46%).

Segundo a coordenadora nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Codemat) do MPT, Cirlene Zimmermann, “não podemos nos limitar à frieza dos números, das estatísticas, dos dados. É preciso lembrar que cada dado representa uma vida, uma família abalada, uma comunidade impactada. Cada adoecimento é um grito por justiça e por responsabilidade. É nossa missão fazer com que esses números não se limitem a gráficos, mas sejam alertas que nos impulsionem a agir”.

Mas esses números, por mais alarmantes que sejam, ainda não revelam todo o cenário. Além da demora para identificar casos de estresse no trabalho, há um ponto crítico que precisa ser encarado: a desigualdade no acesso ao cuidado. Trabalhadores terceirizados, temporários e em funções operacionais continuam sendo, em grande parte, excluídos de programas de bem-estar e apoio psicológico. Em setores como o comércio varejista e o atendimento hospitalar, a participação nos afastamentos cresceu de forma expressiva nos últimos anos, evidenciando que a pressão não é privilégio de cargos de alta gestão, ela atinge de forma intensa quem está na linha de frente.

Para se ter uma ideia da gravidade, os afastamentos por saúde mental entre profissionais de atendimento hospitalar saltaram de 1,2% em 2012 para 10,2% em 2024. Quando esses trabalhadores enfrentam estresse, ansiedade ou depressão, o risco de erros aumenta, a empatia diminui e a própria segurança dos pacientes fica comprometida. Não estamos lidando apenas com números: estão em jogo vidas, tanto de quem cuida quanto de quem é cuidado.
“É preciso internalizar que o investimento em saúde é um ganha-ganha para as pessoas, para as famílias, para as empresas e a sociedade como um todo. O investimento na promoção da saúde mental beneficia toda a sociedade, porque promove ambientes de trabalho seguros e saudáveis, minimiza a tensão e os conflitos e melhora a fidelização do quadro de pessoal e o rendimento e a produtividade do trabalho,” disse o diretor do Escritório da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro.

A dignidade humana não pode ser reduzida a um meio para fins econômicos. Negligenciar a saúde mental de quem trabalha é tratar pessoas de forma impessoal, como se fossem apenas funções dentro de um sistema, e não seres humanos com necessidades próprias. Quando uma empresa afirma não ter tempo ou recursos para cuidar de seus colaboradores, mesmo que de forma involuntária, transmite a mensagem de que o bem-estar de quem trabalha não é prioridade, e é justamente aí que o equilíbrio entre trabalho e vida corre risco.

A solução passa por colocar a saúde mental no centro das estratégias organizacionais. Investir no bem-estar dos trabalhadores não é apenas uma obrigação ética: é um ganho coletivo. Empresas podem criar programas de prevenção, oferecer suporte psicológico contínuo, ajustar jornadas de trabalho, capacitar gestores para identificar sinais de desgaste e promover um ambiente seguro, onde pedir ajuda não seja motivo de medo ou represália. Cuidar da saúde mental reduz o sofrimento invisível, previne colapsos e transforma o trabalho em um espaço de vida, e não de desgaste, aumentando produtividade, engajamento e qualidade dos serviços prestados.

O Setembro Amarelo nos lembra que prevenir é mais do que evitar o pior: é garantir condições para que ninguém precise chegar ao fundo do poço para ser visto. Isso exige não apenas campanhas e cartazes, mas mudanças reais na organização do trabalho: da jornada ao reconhecimento, da equidade no cuidado ao compromisso ético com a dignidade de cada trabalhador.

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