O herói exausto: a construção masculina que sabota a saúde emocional. Por Vanesa Bagio

Sabe aquele homem que parece dar conta de tudo? Trabalha demais, não reclama, tá sempre “resolvendo” tudo, não chora, não fala do que sente… Pois é, ele pode estar no limite e quase ninguém, ao seu redor, percebe.
Essa ideia de que o homem tem que ser forte o tempo todo está destruindo muitos por dentro. Na clínica, tenho visto de perto como esse papel de “super-herói” tem um custo alto e muitas vezes, esse custo é a própria saúde mental.
Desde pequenos, muitos meninos aprendem que sentir ou ter emoções é errado. Que homem de verdade não chora. Que tem que ser durão, forte, o provedor, o cara que aguenta tudo calado. E aí a vida passa, e esse mesmo menino vira um adulto que: trabalha até a exaustão, usa o sexo, o álcool ou a comida como válvula de escape, se irrita fácil e explode por qualquer coisa, e muitas vezes, não entende o que está sentindo, só sente que tá “desligando” por dentro.
Essa é a depressão oculta. Aquela que não aparece com tristeza, mas com raiva, excesso de trabalho, vícios ou isolamento. E o pior? Quase ninguém chama isso de depressão, sabe o motivo? Ele está na ativa, trabalhando, dando conta do que acredita ser o certo. Mas por dentro, esse ele está pedindo socorro.
Esse modelo de “homem que aguenta tudo” é aplaudido. Nas famílias, no trabalho, nas amizades. A gente romantiza esse tipo de homem, que nunca falta, que resolve tudo, que não desaba. Só que esse ser humano está adoecendo.
E o pior: ele acha que pedir ajuda é sinal de fraqueza. Que ir na psicoterapia é “coisa de quem não tem o que fazer”. Resultado? Vai empurrando com a ‘barriga’ até não aguentar mais.
Como psicóloga, meu trabalho é ajudar esses homens a entender que sentir não é fraqueza. Que sentir medo, insegurança, tristeza é humano. Que não existe saúde mental sem espaço pra emoção. Que pedir ajuda é, na verdade, um baita ato de coragem.
Muitos desses homens só aprendem a colocar pra fora na psicoterapia. E quando colocam, é como se tirassem uma armadura de toneladas.
Por isso é hora de parar de exigir dos homens esse papel de herói. Eles não precisam salvar o mundo. Precisam se permitir ser reais. Se você é homem e se identificou com isso: sua dor é válida. Você não precisa dar conta de tudo sozinho. Se você convive com um homem assim: escute, incentive, acolha. Às vezes, a frase “oi, estou aqui se quiser conversar” já abre uma porta importante. Olhe para o lado e seja essa pessoa.
Seja homem” — diziam. Mas ninguém avisou que, para isso, era preciso primeiro aprender a ser humano.
Fique bem!
Siga @vanesabagio.psi para buscar mais informações e lembre-se: “Sua saúde mental importa tanto quanto qualquer outra área da sua vida.”