Brasileiro relata tensão em Jerusalém após ataques iranianos: “Vi drones a 50 metros da minha casa”
Brasileiro que vive em Jerusalém descreve rotina em meio a alertas de ataques

O Jornal da Guarujá conversou com Ilan Schucman, brasileiro que mora há mais de uma década na região leste de Jerusalém, capital de Israel. Ele relatou momentos de tensão vividos durante os recentes ataques do Irã ao território israelense.
“Na primeira noite, a gente resolveu jantar no quintal. A sirene não tinha tocado ainda, mas vi um drone e minha esposa viu três. Estavam a cerca de 50 metros. Se tivessem armamento, nos atingiriam. Só depois disso a sirene disparou”, relatou.
Segundo ele, os drones não eram pequenos. “Vi a luz dele, uma parte do corpo, era talvez da largura de um carro e metade do comprimento. Não é drone de filmagem publicitária. Não é pequeno. Não voaria do Irã até aqui se fosse. Precisa de combustível, autonomia”, explicou.
Apesar de Jerusalém ter sido menos atingida, Schucman afirma que o país está em alerta total. “O país está praticamente fechado. Não tem escola, não vou ao trabalho desde quinta-feira. Só saí para o mercado e para levar meu sobrinho até a base do exército, ele é piloto de tanque da unidade de mais alta elite dos tanquistas do Exército de Israel e seguiu para lutar na Faixa de Gaza”, contou.
Abrigo antibomba, rotina alterada e temor constante
Ilan é formado em Direito no Brasil e em Israel trabalhou por mais de uma década como guia turístico. Com a guerra, se formou também em Cibersegurança. Atualmente, administra uma ONG que apoia israelenses, além de cuidar da parte de segurança cibernética da instituição.
O brasileiro vive com a esposa, os filhos, a mãe e dois cachorros. Todos se abrigam em um cômodo da casa adaptado como abrigo antibomba. “Aqui tem uma porta de ferro, uma janela reforçada. Desde 7 de outubro de 2023, está fechado. Quando toca a sirene, minha mãe, meus filhos, minha esposa, eu e os dois cachorros corremos para cá.”
Apesar do preparo, ele admite que há limites. “Não estou acostumado com mísseis que voam a 15 mil km/h. Se um desses cair direto aqui, meu abrigo não segura. Seria necessário estar em abrigo subterrâneo. Mas se quiser o conforto da minha casa, corro esse risco.”
Ele também comentou sobre as vítimas dos ataques. “Ontem foram oito mortos. Quatro deles estavam dentro de um abrigo antibomba em um prédio. Se o impacto for direto, esses abrigos não seguram.”
Críticas ao Irã e à postura do Brasil no conflito
Sobre o conflito, ele é enfático: “O Irã é um estado terrorista. Financia o Hamas, Hezbollah e outras milícias islâmicas radicais que querem destruir Israel. Há 40 anos eles dizem isso abertamente. Então temos duas opções: sermos destruídos ou impedir isso. Preferimos a segunda. Vamos destruir as usinas nucleares deles, como fizemos com o Iraque e com a Síria”.
Schucman acredita que o envolvimento israelense na guerra não é uma escolha, mas uma questão de sobrevivência. “O povo de Israel não quer guerra. A gente quer viver em paz. Eles pregam a morte dos outros. Nós pregamos a vida.”
Sobre a posição do governo brasileiro, Ilan é crítico. “O presidente brasileiro é objeto de chacota aqui. O governo de Israel não quer romper acordos com o Brasil, mas a população vê o presidente como ingrato. É importante separar o povo brasileiro do governo. O povo é uma coisa, o governo é outra.”
Ilan, que é judeu messiânico e atua também como pastor em uma comunidade local, segue monitorando os alertas e mantendo a família segura. “As crianças até vão na quadra, mas têm que estar com o celular na mão. Se tocar o alerta, voltam correndo pra casa.”
Por fim, destacou o apoio dos Estados Unidos. “Os soldados americanos não estão combatendo diretamente, mas ajudam na defesa, no abastecimento aéreo. Mas os aviões, até agora, são todos de Israel. O Irã está fragilizado. O próprio porta-voz do Exército confirmou. Muitos líderes foram mortos, inclusive o comandante da Força Armada no primeiro ataque. Estão tentando negociar.”
Para Ilan Schucman, a luta é por sobrevivência. E viver, em tempos de guerra, é manter a fé e estar preparado. “A gente não está em guerra porque quer. Mas se não respondermos, não vamos mais existir.”
Confira entrevista completa