Presidente do Sinditabaco avalia COP11 e alerta para propostas brasileiras que preocupam o setor
O Jornal da Guarujá conversou na manhã desta terça-feira (2) com Valmor Thesinh, presidente do Sinditabaco, que comentou os avanços e preocupações trazidos pela 11ª Conferência das Partes (COP11), realizada em Genebra, na Suíça. O encontro discutiu medidas internacionais para o controle do tabaco, e, segundo Thesinh, novamente trouxe apreensão para a cadeia produtiva.
Thesinh destacou que a comitiva brasileira foi impedida de participar das sessões da conferência. “A gente chegou com muita preocupação lá e novamente não podemos participar, apesar de estarmos com uma comitiva lá com mais de 40 pessoas, entre imprensa, parlamentares, representantes da indústria e secretarias de agricultura do Rio Grande do Sul, Bahia e Santa Catarina”, afirmou.
Segundo ele, as propostas apresentadas pelo Brasil geraram surpresa e inquietação. “A partir do momento que nós vimos as proposições que o Brasil apresentou lá, nos trouxe muita preocupação. Nós sabemos que o Brasil sempre foi protagonista em levar medidas contra a cadeia produtiva de tabaco como um todo, desviando um pouco da questão da saúde, que nós estamos totalmente de acordo. Veja bem que o Brasil tem uma das regulamentações mais exigentes quando se fala de um produto final”, disse.
Entre os pontos citados, ele mencionou três propostas que julga preocupantes: aumento de impostos, proibição de novos tipos de nicotina e criminalização da cadeia produtiva. “O aumento de impostos leva diretamente ao mercado ilícito, que já é 32% no Brasil”, argumentou. Sobre a criminalização, completou: “Veja bem, o produto é legal, e as empresas associadas ao Sinditabaco atendem a legislação de forma muito contundente”.
Reuniões na embaixada e pressão política
Mesmo sem acesso oficial à COP11, a comitiva conseguiu abrir diálogo na embaixada do Brasil em Genebra. “Nós tivemos acesso à embaixada brasileira em três reuniões que nós tivemos lá, reuniões positivas, onde os parlamentares puderam levar as preocupações da cadeia produtiva como um todo e fazer questionamentos ao embaixador Tovar Nunes e também ao Igor, representante do Itamaraty”, relatou.
Thesinh afirmou que as reuniões foram fundamentais para esclarecer pontos críticos, como a proposta brasileira de proibir filtros de cigarro. “Os parlamentares questionaram, por exemplo: por que o Brasil apresentou uma proposição para proibir os filtros, quando mundialmente o produto final tem essa característica do filtro, que inclusive protege o consumidor?”, disse.
Ele acrescenta que houve orientação do próprio Itamaraty para que o setor buscasse diálogo no Brasil: “O embaixador e principalmente o Igor sugeriram que nós deveríamos voltar ao Brasil e fazer questionamentos aos ministérios”.
Segundo Thesinh, o impacto das reuniões foi imediato. “Houve a manifestação do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, que o Mapa não estava sabendo dessa proposição do Brasil. Então isso abre caminho para que nós agora, e esse é uma lição de casa que nós temos, antes da próxima COP, busquemos diálogo com o governo”, afirmou.
Riscos para a cadeia produtiva
Thesinh também reforçou os efeitos que a proibição de filtros teria no mercado. “O Brasil exporta 90% do volume que produz, o Brasil é o maior exportador de tabaco. Imagina se fosse aceita a proposição do Brasil de proibir os filtros. Naturalmente iria aumentar o mercado ilegal, porque o mercado ilegal não deixaria de produzir o cigarro com filtro, que os consumidores estão acostumados a consumir”, afirmou.
Ele ressalta que isso impactaria diretamente o setor. “Isso traria prejuízo direto à cadeia produtiva como um todo. A indústria brasileira é legalizada. Se viesse a ser proibido, nós não poderíamos produzir. A indústria no exterior, que usa tabaco do Brasil, também não poderia produzir mais”, explicou.
A proposta não entrou no consenso final da COP11, mas, segundo Thesinh, ainda deixa uma porta aberta. “Ela ficou fora do consenso final, mas abre espaço para que os países individualmente façam essa análise, dentro da proposta de criminalizar a indústria pelo impacto ambiental. Cria uma situação bastante complexa, que traz risco ao setor.”
Thesinh conclui destacando a estratégia daqui para frente: “Com a ajuda dos nossos parlamentares, precisamos trabalhar dentro do governo brasileiro, principalmente através dos ministérios, para tentar mudar esse posicionamento radical, esse protagonismo que o Brasil tem contra a cadeia produtiva do tabaco”.

Fotos/Sinditabaco
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